Crise da Saúde
Um dia transtornado na Santa Casa de Pelotas
Não há previsão para reabertura do serviço; o sucateamento do hospital ocasiona a articulação de uma greve de funcionários
Carlos Queiroz -
De um lado, o atraso nos repasses do fundo estadual geraram o fechamento do setor de Traumatologia da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas - que agora passa a atender somente os pacientes já internados e os que retornam para consultas. De outro, funcionários da categoria dos auxiliares administrativos realizaram um ato na tarde desta quarta-feira (20) por conta do parcelamento dos salários e o sucateamento do hospital. Logo após, anunciaram greve para iniciar em 72 horas, contando a partir de quinta-feira (21).
A dívida do governo do estado com o hospital chega a R$ 1,5 milhão. Destes, R$ 900 mil deveriam ser repassados para o setor de traumatologia. A escassez de verbas atingiu o bloco cirúrgico, que precisou ser fechado por conta da falta de materiais para a realização de cirurgias. "Não é algo que nós queríamos", afirma o chefe do setor, Andrei Blank. Cerca de 90 pacientes por dia recebem os atendimentos, o que totaliza dois mil ao mês, entre moradores das áreas urbanas e rurais do município, como os distritos. A responsabilidade do hospital com a população foi um dos fatores determinantes para o fechamento do serviço. "Não tenho como aceitar um paciente que não vou poder tratar", comenta Blank.
Para o provedor da Santa Casa, Lauro Melo, a situação é uma grande bola de neve. Os atrasos do fundo estadual começaram na metade do mês de setembro e se estendem até o pagamento de dezembro. A ausência dos recursos ocasiona dívidas da casa de saúde com outras empresas e altos juros e cobrança de taxas adicionais, explica o provedor. Além disso, os funcionários reclamam do parcelamento dos salários, situação que já persiste há dois anos. Tanto a compra de materiais como o não pagamento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) aos trabalhadores já aposentados foram pauta do ato em frente ao hospital.
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) afirma que está estudando as possibilidades "para a reabertura imediata" do setor de traumatologia, como explicou ontem Leandro Thurow, que está respondendo pela pasta durante as férias da secretária Ana Costa. A principal alternativa é utilizar a Associação de Caridade Santa Casa do Rio Grande como retaguarda ao Pronto Socorro de Pelotas. Ou seja, os pacientes de urgência que passarem pelo PS seriam encaminhados à Santa Casa - viajariam 59 quilômetros de distância em busca de um leito. Por enquanto, não há previsão para reabertura do serviço.
O ato ocorreu por volta das 14h da tarde desta quarta-feira, reuninco cerca de 180 funcionários da Santa Casa
Funcionários articulam greve
Um grupo com cerca de 180 funcionários da Santa Casa realizaram no início da tarde desta quarta-feira um protesto devido ao parcelamento dos salários e sucateamento do hospital. Os problemas são vários e o Sindicato dos Trabalhadores em Serviços de Saúde de Pelotas garante que se arrastam há anos, mas as pautas reivindicadas se agravaram nos últimos dois. Aos 21 dias do mês, somente metade do salário de janeiro foi pago. Lauro Melo afirma que a expectativa é conseguir enviar mais 25% do valor, o que depende do repasse estadual. Caso não seja enviado, os folhas de pagamento não serão quitadas.
Ausência de materiais para os pacientes e funcionários e falta de repasses aos setores do hospital foram alguns dos transtornos citados durante a manifestação. A questão se repete na creche ligada à Santa Casa. Como explicou Melo, o local precisou se adequar às normas legislativas e passou a ficar sob gerência de uma empresa do ramo escolar. Antes, o educandário pertencia ao hospital e, assim, os funcionários com filhos de até quatro anos podiam deixá-los na creche durante o expediente. Com as adequações, passaram a receber uma espécie de bolsa escolar para que os filhos pudessem seguir com os estudos. Contudo, com os atrasos nas verbas estaduais, a gestão cortou o repasse que garantia as vagas dos pequenos. Até que a situação seja resolvida, as crianças não poderão frequentar o local.
Outro problema apontado pelos funcionários durante a mobilização é a inexistência de materiais para uso comum. Papel higiênico, sabonete líquido, utensílios de escritório e água potável são alguns dos itens que estão sendo levados de casa pelos trabalhadores. O pagamento do FGTS aos aposentados também esteve na pauta de reivindicações. Cléia Gomes Farias está aposentada há seis anos e relatou que o problema se estende há mais de um ano. "A pessoa se programa pra se aposentar e sacar o dinheiro e acaba não conseguindo. É uma poupança forçada", pontua.
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